O desenvolvimento
infantil de 0 a 6 anos segundo Wallon
Tendo em vista a
proposta do atendimento à criança na Educação Infantil que engloba os aspectos
funcionais e relacionais, é necessário que a escola e o educador conheçam os
diferentes momentos do desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos.
Segundo Wallon
(1934), a criança deve ser estudada na sucessão das etapas de desenvolvimento
caracterizadas pelos domínios funcionais da afetividade, do ato motor e do
conhecimento, entendidos como sendo desenvolvidos primordialmente pelo meio
social. Os estágios do desenvolvimento propostos por Wallon (1934) têm início
na vida intra-uterina, caracterizada por uma simbiose orgânica. Após o
nascimento, apresenta-se o estágio impulsivo-
emocional no qual prevalece a
emoção, caracterizado como o período da simbiose
afetiva. No período seguinte, que vai até os 2 anos de idade, a criança
encontra-se no estágio sensório-motor e projetivo,
voltando-se para a exploração do mundo físico. Gradualmente, com a aquisição da
marcha e da linguagem, a criança apresenta modificações no seu padrão de
interação com o mundo.
A partir dos 3
anos, ocorre o estágio do personalismo,
momento da constituição do eu, no qual a criança em seu confronto com o outro
passa por uma verdadeira crise de personalidade, caracterizada pelas mudanças
nas suas relações com o seu entorno e pelo aparecimento de novas aptidões.
Wallon (1953) considera esse estágio, que vai até os 6 anos de idade, como
sendo muito importante para a formação da personalidade.
Nesse sentido,
considerando a idade compreendida na Educação Infantil, ressaltam-se as
características desse momento do desenvolvimento da criança como forma de
oferecer subsídios para a atuação do educador e do psicólogo escolar nesse
contexto. Parte-se do princípio da necessidade de que a escola e todos aqueles envolvidos
com a Educação Infantil tenham consciência de que suas ações têm conseqüências
não só no momento atual do desenvolvimento da criança, como também nos
posteriores. É também nesse momento que a criança está mais propensa à formação
de complexos, ou seja,
atitudes que podem marcar de forma prolongada seu comportamento em relação ao
meio (Deldine & Vermeulen, 1999; Mahoney, 2002).
Ao ingressar na
escola, a família ainda se constitui no grupo por excelência para a criança. No
entanto, a escola proporciona uma diversificação dos grupos nos quais a criança
poderá se inserir. O papel do grupo formado por crianças da mesma idade passa a
ser o de favorecer a aprendizagem social, ou seja, o convívio com os padrões e
regras sociais. Durante esse estágio, o grupo permitirá à criança
diferenciar-se dos outros e descobrir sua autonomia e sua originalidade
(Wallon, 1953).
O estágio do
personalismo divide-se em três períodos distintos, todos com o objetivo de
tornar o eu mais independente e diversificado. São eles: período da negação, idade da graça
e período da imitação. No primeiro, o da negação, surge na criança a
necessidade de se autoafirmar, de impor sua visão pessoal e lutar para fazer
prevalecer sua opinião.
No período
seguinte, o da idade da graça,
por volta dos quatro anos de idade, a criança desenvolve maneiras de ser
admirada e chamar a atenção para si através da sedução, com uma necessidade de
agradar cujo objetivo é obter a aprovação dos demais.
A criança passa a
se considerar em função da admiração que acredita poder despertar nas pessoas.
Ressalta-se a importância da oferta de oportunidades de expressão espontânea da
criança, através de atividades como a música, a dança, artes, etc. Exercitar na
criança as habilidades de representação do seu meio, ou seja, através do
faz-deconta ou do uso da linguagem, contribui para que ela adquira uma precisão
maior na expressão de seu eu (Galvão, 1992).
O terceiro
período, o da imitação, por volta dos 5 anos, é marcado por uma reaproximação
ao outro, manifestada pelo gosto por imitar, que possui um papel essencial na
assimilação do mundo exterior. O professor deve observar que sua figura
geralmente desperta o desejo de identificação no aluno, devendo estar
consciente de tal fato para estabelecer sua conduta. Wallon (1939) entende a
imitação como uma “necessidade de identificar-se com a realidade percebida para
identificá-la melhor” (p.231).
A partir dessas
considerações, verifica-se que a Educação Infantil possui um papel
importantíssimo na formação da personalidade da criança, visto que permite a
sua adaptação à vivência em comunidade, em grupos que vão além dos limites
familiares, e contribui para a formação do eu psíquico. A escola pode estimular
o desenvolvimento de valores saudáveis nas interações, tais como a cooperação,
a solidariedade, o companheirismo e o coletivismo. As atividades em grupo devem
alternar-se com atividades individuais fazendo assim uso das alternâncias
comuns nesse estágio para promover o desenvolvimento de mais recursos de
personalidade (Wallon, 1937).
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Fontes:
Psicologia Escolar em
educação infantil: reflexões de uma atuação
Artigos, Universidade de Brasília.
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